sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tudo culpa da RRRRRITA!


- Olá, meu nome é Mario.
- Oooooooi, Mario!
- Tenho 30 anos, sou solteiro, publicitário e noveleiro. Sim, noveleiro. Estou há 18 horas sem assistir novela (na verdade 16, se eu contar Gabriela) e não posso dizer “só por hoje” porque ontem a Carminha descobriu que a Nina sustenta o Max e os planos de vingança com o dinheiro do sequestro dela e eu preciso saber no que isso vai dar. PRECISO!

Minha relação com novelas começou muito cedo, talvez por sempre ver meus pais consumindo. Eu sempre os amei muito, e ainda amo, e talvez por isso fui influenciado a assistir novelas. Quando criança eu era obrigado a dormir às 20h30, mas as novelas nos anos 80 começavam mais cedo. E nessas eu descobri Maria de Fátima, Odete Roitmann, Felipe Barreto, Perpétua, Isadora Venturini e toda uma variedade de personagens que causavam os mais diferentes efeitos em mim. Meus pais, talvez inconscientes de que o vício independe da dosagem mas sim da suscetibilidade do usuário, começaram a chamar minha irmã, batizada Thais, de “minha doce Thaisinha” em referência à forma como o personagem de Antônio Calloni (por Baco!) se referia à personagem de Letícia Sabatella em “O Dono Do Mundo”, novela de Gilberto Braga, com direção de Denis Carvalho, primeiro papel de Letícia na TV bem como de seu futuro marido Angelo Antonio, o apaixonado Beija-Flor... Desculpem, gente. Eu tenho tentado me conter mas, quando eu percebo, o cordel de referências já está saindo da minha boca feito lingüiça (desculpem também pela nojenta metáfora).

A questão é que, conforme fui crescendo, passei por vários estágios da dependência, buscando as mais diversas maneiras de satisfazer minha necessidade quando as adversidades da vida me impediam. Mais uma vez, com influência do meu pai que gravava “Pantanal” quando precisava sair para qualquer compromisso, aprendi a utilizar o vídeo-cassete como um aliado. Chegou um ponto em que gravava “Laços de Família” e chegava em casa da faculdade apertando o “play” antes de dar boa noite a meus progenitores. Mas isso já não me satisfazia. Ainda guardo fitas e fitas com finais de Big Brother, apresentações (para mim somente) épicas do finado Fama e duas especificamente com as cenas finais de revelação de “Por Amor”. Com o advento da internet, cheguei a assistir “Pé na Jaca” e “A Lua Me Disse” pelo You Tube diariamente durante minha hora de almoço, retomando o apego à novelas das 19h, prática extinta desde que assinei minha carteira profissional pela primeira vez.

Tenho pensado seriamente em como seria minha vida caso me curasse dessa celeuma. Inclusive fiz um teste ano passado quando fiquei completamente ausente das novelas (com exceção de capítulos decisivos da reprise de “Vale Tudo” que, por conta de um fuso horário de 4 horas, me faziam passar noites em claro) mas quando estava me considerando pronto pra função, principalmente depois da vodka batizada que foi “Fina Estampa”, chega João Emanuel Carneiro (“A Favorita”) e lança no mercado “Avenida Brasil”. Quando vi a primeira cena da novela com uma Bruna Marquezini ultra melhorada, sem sua lamentação manequiana mas enfrentando com garra a maior vilã de todos os tempos, Carmen Lúcia, meu coração parou. Parou junto com o do Genésio. Congelou no cinza junto com Tufão. 

Desde então, acredito que até outubro terei perdido metade dos meus amigos (os que não consegui corromper, obviamente) e desconfio de que precisarei de terapias holísticas (a minha jungiana morre de rir do meu vício e até tem começado a se preocupar, mas não sei se ela entende minha vida sendo guiada por Carminha para todo sempre) quando o Divino for extinto. Ao me ver forçado a ligar a TV às 21h diariamente eu acabei com uma festa de aniversário no capítulo 100, com uma festa julina no capítulo 101, com um open house no capítulo 104, quando Zezé finalmente foi agraciada com uma congelada histórica, e acabei com amizade com a minha roommate no capítulo 117, a maior obra-prima já vista num capítulo de quarta-feira, onde o futebol, outra famosa droga que assola a sociedade mas da qual sou imune, fode a nossa vida não permitindo nem o momento “Oi Oi Oi” – Carminha sendo trocada por Nina, ficando muito louca, batendo o carro, tomando uma com os colegas numa birosca, fazendo O MELHOR DISCURSO DE TODOS OS TEMPOS e, por fim, congelando na boléia de um caminhão de lixo entornando uma garrafa de cachaça no gargalho gritando “TOCA PRO INFERNO, MOTORISTA”. 

Se o lixão é o inferno, eu não sei, mas que eu tenho vontade de cantar “Andança” pra Carminha sempre que ela aparece, não vou negar.

- Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras. Obrigado. É só por hoje (MENTIRA! #OIOIOI!).