segunda-feira, 13 de maio de 2013

Salve Jorge: a novela que poderia ter sido

Estava eu, numa quarta-feira qualquer, atormentado pelo futebol semanal que acaba com a vida de quem só tem uma TV aberta pra chamar de sua e uma falta de afinidade com o esporte bretão, quando resolvo assistir pela 109ª vez a Kill Bill, Vol. 1, clássico de Quentin Tarantino. E qual não é a minha surpresa ao perceber que, com exceção da falta completa de vontade da Glória Perez de enredar uma trama como se deve, Salve Jorge poderia ser uma novela de sucesso.

Vamos aos fatos:

A trama:
Vingança porque acabaram com a minha vida.

O motivo da vingança:
Além de acabarem com a minha vida, levaram minha filha.

A mocinha:
Kill Bill: Beatrix era uma loira linda, treinada pelas artes marciais e que foi emboscada enquanto noiva.
Salve Jorge: Morena era uma morena linda, treinada por um traficante de drogas e que foi emboscada enquanto dançarina de funk.

Os mestres:
Kill Bill: Pai Mei
Salve Jorge: Delegada Helô
Ponto em comum: estão sempre na estica e aplicam uns golpes que você não consegue nem acompanhar de onde saíram. E ainda no final ajeitam o cabelo/barba como se nada tivesse acontecido.

Os vilões (por ordem de vingança no Kill Bill):
Kill Bill: Vernita Green
Salve Jorge: Rosângela
Ponto em comum: se iludiram que poderiam ser iguais aos demais vilões, se enfiaram até as tampas no crime mas tentaram se redimir quando encontraram um trouxa que as sustentassem. Se foderam no final.

Kill Bill: O-Ren Ishii
Salve Jorge: Wanda
Ponto em comum: achavam que dominavam a porra toda, angariavam cúmplices por todos os lados, mas morreram pela peruca.

Kill Bill: Budd
Salve Jorge: Russo
Ponto em comum: só têm a cara de mau e até fizeram a mocinha sofrer no decorrer do processo, mas se foderam porque acreditaram em mulheres que não queriam nada com eles.

Kill Bill: Elle Driver
Salve Jorge: Irina
Ponto em comum: as louras más que juram que são alguém na noite mas não têm mais juventude pra agüentar o tranco.

Kill Bill: Bill
Salve Jorge: Lívia Marini
Ponto em comum: se achavam os reis da cocada preta, só foram meter a mão na massa no final mas acabaram morrendo pelo coração (bonito isso).

Personagens secundários:
Categoria nepotismo: o braço direito da vilã secundária:
Kill Bill: o irmão da Lucy Liu
Salve Jorge: Junno, o namorado da Xuxa

Categoria tentativa de humor: a hostess do bar:
Kill Bill: Charlie Brown
Salve Jorge: Dona Diva

Categoria ainda tem que comer muito feijão com arroz: o projeto de vilã:
Kill Bill: Gogo
Salve Jorge: Maria Vanúbia

Cenários da batalha:
Onde tudo acontece:
Kill Bill: EUA (Califórnia) e Japão (Tokio)
Salve Jorge: Brasil (Rio) e Turquia (Istambul)

Paraíso paralelo:
Kill Bill: México
Salve Jorge: Capadócia

Línguas secundárias:
Kill Bill: japonês e mandarim
Salve Jorge: turco safado e português do morro

Armas utilizadas:
Kill Bill: espadas Hattori Hanzo e tapa na cara
Salve Jorge: um revolvinho mequetrefe, uma seringa com Ades de maçã e tapa na cara

Meio de transporte:
Kill Bill: a Pussy Wagon chamativa
Salve Jorge: o jatinho da ponte aérea Brasil-Turquia não cadastrado na ANAC

Erros (porque nem o Tarantino está livre):
Categoria cabelo:
Kill Bill: Beatrix alterna entre cabelo curto repicado e comprido “estou há 4 anos em coma”
Salve Jorge: Morena alterna entre cabelo de propaganda de shampoo e crespo “are you leaving the Supremes?”

Categoria “não tem ninguém vendo?”:
Kill Bill: Beatrix mata Buck no hospital onde estava em coma há 4 anos e o companheiro que foi servir-se dela e fica 13 horas no estacionamento tentando movimentar o dedão do pé.
Salve Jorge: Morena vai pra igreja no meio da madrugada dar uma rezadinha básica, encontra Théo mas não encontra os bandidos que estão por toda a parte, justificando sua reclusão num hotel.

Conclusão:
P: Por que Kill Bill é infinitamente melhor que Salve Jorge?
R: Por que em Kill Bill não tinha o Théo.



PS: algum Diretor de Arte amigo podia transformar isso numa tabela comparativa e presentear este que vos fala, né? Só, assim, uma sugestão. Grato.