quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não sabe brincar, não desce pro Play



Sobre o caso do afastamento do Rafinha Bastos do CQC, concordo com o Ale Rocha quando ele diz que o erro dele foi ter pedido desculpas da primeira vez. Foi, porque Danilo Gentili taí vendendo
escrotice saúde em tudo quanto é canto. Mas o mais grave erro do Rafinha foi não ter a menor noção de tempo e espaço. E isso parece ser um comportamento quase padrão dessa nova geração do humor televisivo.

Fazia muito tempo que não se via mais humor de qualidade no Brasil ou até mesmo alguma coisa inovadora usando os mesmos elementos de sempre (as esquetes de “Escolinha do Professor Raimundo”, “Zorra Total”, “A Praça É Nossa” e blá blá blá) e parece que a busca por audiência fez com que o filtro fosse ficando cada vez mais escasso pro que tinha de fato bom gosto. Com a febre do stand-up comedy e das redes sociais, surgiram dois novos tipos de humorista: os que copiam a fórmula do stand-up americano e a webcelebrity. O mote de ambos ainda gira em torna da crítica social, da crítica a cultura de massa e ao comportamento do povo (e que funciona muito bem porque, no Brasil, graças a Deus, somos um povo que ridiculariza a si próprio), mas os praticantes dessas novas modalidades esquecem de um princípio básico: limite.


Às vezes parece que falta talento, muito mais do que referência. Quem disse que pra ser engraçado tem ofender o coleguinha da direita? O mau gosto da piada em relação à Wanessa é o mesmo em relação às mulheres vítimas de estupro. E daí pro desumano de sacanear uma criança deficiente (tá cheio de gente escrota que faz piada com a filha do Justus ou – ainda – com a Clarinha de “Páginas da Vida”) é um pulo. Depois ainda falam em censura! E desde quando tá liberado fazer o que bem entender e não arcar com as consequências? Desde quando liberdade de expressão não vem acompanhada da responsabilidade sobre o que resolveu dizer?

E é exatamente esse o discurso da outra parte dos novos humoristas: o povo das redes sociais. Com a democratização da internet, hoje em dia todo mundo tem direito aos seus 140 caracteres engraçados. E muita gente achou o caminho: a maioria às custas do que já é produzido pela mídia – seja um programa de televisão ou notas da imprensa de celebridades. Acho genial! Mesmo! E particularmente, acho o máximo comentar TV pelo Twitter (ah, vá!) e sempre dou um pulo no Ego pra ver o que a Nana Gouveia tá fazendo ou se acho um erro novo do estagiário imbecil deles. O duro é não saber sustentar. Gente boa de verdade agora passa, infelizmente, 80% do tempo online discutindo com follower porque se acha no direito de escrever o que quer sem ouvir crítica. E virou moda chamar o outro de covarde porque tá atrás de um computador. Cagação de regra. Pura e simples. Tem muita gente escrota no mundo mas, antes de mais nada, o Brasil é um país democrático e se você tem o direito de falar o que bem entende, os outros também têm. E se você tá lá fazendo um puta esforço pra ser uma pessoa pública (igual àqueles que critica diariamente), aguenta a bronca, filhão! Senão, guarda seus comentários super engraçados (aqui sem ironia) pro sofá da sua casa ou praquele grupo de emails da turma do Reveillón de Juqueí 2002.


Olha, de verdade? Saudade do tempo em que dava pra rir simplesmente com o monstrinho daquele filme dos Trapalhões passando o dedo no braço do Mussum pra ver se não saía tinta ou com a fofoqueira da Praça. Ambos longe de serem politicamente corretos mas sem precisar constranger ninguém pra parecer superior. E sobre o manual de boas práticas em redes sociais, certa tá a Luana Piovani porque não tem nada mais ridículo que “humorista” melindrado (até por isso que adorei a rea
ção do Rafinha à sua suspensão - imagem que ilustra o post).



Updates:
1. O quadro Valéria e Janete do Zorra Total, que faz a mesma piada que Rafinha fez sobre mulher feia e estupro, também pode ser punido pelas mesmas razões. E olha que a Globo é mais poderosa que o Ronaldo! ;)

2. Leiam o primeiro parágrafo do post do Ale Rocha sobre o CQC dessa segunda, já sem Rafinha. Coer
ência, a gente se vê por aqui!