quarta-feira, 4 de abril de 2012

"A Vida Da Gente" - Beijo, Nelinha!



Depois de ter acabado (merecidamente, me desculpem) com Nelinha por causa de Tempos Modernos (não, não sou tão bizarro assim, só me lembro porque fiz post), eu precisava me redimir depois de ter tido a chance de acompanhar o final do que certamente foi uma das melhores novelas das 6 que eu já vi e a melhor que esteve no ar ultimamente: A Vida Da Gente.


Novela das 6 é aquela coisa, né? Mamão com açúcar, “dramalhinho” romântico, uma carga leve de comédia... enfim, tudo aquilo que faz as nossas avós falarem “ah, mas essa novela é tão bonita! Aquele moço trabalha tão direitinho!” – pelo menos a minha, responsável por tudo o que eu sei sobre novelas das 6 e com quem eu assisto aos sábados desde sempre. Mas essa conseguiu fugir desse estereótipo caindo numa tentativa corajosa de trazer cotidiano envolto em uma trama bem amarrada – e exclusivamente trágica – prum horário com fórmula já estabelecida (basicamente a gaveta do Walcyr Carrasco). Outras já haviam tentado e fracassado sem piedade (porque a única garantia que existe na TV aberta é que novela das 8 dá audiência. De resto, é teste).

Todos os personagens eram críveis e esse era o maior trunfo da novela: as pessoas eram tão humanas e cada atitude era tão exacerbadamente explicada – inclusive na técnica mencionada pelo Nilson Xavier de utilizar personagens secundários como formas de justificar seus sentimentos – que a relação da Manu com o Rodrigo nunca foi severamente reprovada, pelo contrário. Tudo muda, todo mundo carrega histórias que compõem quem a gente se torna e o tempo, cantado pela novela toda e recitado no último capítulo pela Nicete Bruno, é o maior responsável pelos desencontros e pelas resoluções de tudo que parece meio bagunçado. Principalmente numa novela onde ele é o próprio vilão também. Não, a Eva não era vilã. Muito menos a Vitória ou o Jonas. São seres humanos comuns com quem a gente convive e muito.

Voltando à redenção, eu ficava absurdamente tocado toda vez que via Fernanda Vasconcelos nessa novela. A Ana fugia completamente da mocinha chata e chorosa que só se lamentava da vida. Ela sofria sim, mas foi lá, tentou (e conseguiu no fim) construir uma nova história, tentou recuperar a vida perdida antes, teve falhas, caiu e levantou e no fim teve mais apoio do que a segunda mocinha da Marjorie Estiano. Sempre gostei, por mais que não seja uma unanimidade. Mas aqui, mesmo sendo a ponta mais fragilizada, também deu seus berros, defendeu suas opções de vida, tentou (e também conseguiu) ser feliz. É até difícil entender quem sofreu mais, se a que perdeu 4 anos da vida em coma ou a que viu a sua sendo completamente desconstruída quando a outra saiu desse coma. No outro vértice, um cara bacana. Falho também, mas bacana. Frágil, como todos os personagens masculinos dessa novela, mas de uma sensibilidade emocionante que serviu inclusive de escada pra filha, um encanto!

No fim foi isso, um encanto. Aos personagens secundários cabem menos comentários, e talvez seja o ponto onde a autora precisa se aprimorar na hora de amarrar as histórias e explorar mais as possibilidades, mas em tempos de extremos no horário das 8 e torcidas enfurecidas de reality shows, nada como redescobrir o quanto a gente gosta de se ver retratado em novela e que, na tentativa de ser feliz, todo mundo comete uma porrada de erros e acertos.