quarta-feira, 3 de abril de 2019

Sobre reality shows e velhos vícios



É interessante ver a mudança de comportamento dos participantes de reality show ao longo dos anos. Principalmente no que diz respeito a comportamento de disputa em grupo e a relação com minorias sociais.

Os melhores exemplos hoje em dia têm sido (em esferas muito diferentes) Big Brother Brasil e RuPaul’s Drag Race. Apesar de terem objetivos e construções completamente diferentes, eles têm como um dos itens mais importantes a relação entre os participantes construída nos respectivos confinamentos. E é aí que mora a grande quebra de paradigma que as pessoas que comandam esses realities ainda não conseguiram entender (se bem que RuPaul têm aprendido melhor - pelo menos é o que se vê na TV, sem considerar os bastidores).

Indo por partes:
O BBB é um programa que existe há 18 anos e que, por muitos anos, teve sua disputa baseada na divisão da casa em grupos. Não necessariamente os grupos que o Boninho definiu previamente, mas o que se formavam por afinidade. Nesse caso, os que eram “vítimas” de um “complô” acabavam por durar mais, se valendo do estigma de perseguidos e da fúria que os grupos de “vilões” formados demonstravam cada vez que tentavam, semana a semana, derrubar essa ou aquelas pessoas. 
O elenco geralmente era formado por pessoas que vinham, invariavelmente, da mesma esfera social, com algumas diferenças regionais entre alguns deles. Por isso os excluídos eram dignos da defesa do público. Bambam era isolado pela casa por ser mais limitado, Dhomini era o matuto que desafiava a inteligência dos de fato inteligentes, Jean foi o primeiro homossexual assumido no programa (André do BBB1 não tocou no assunto e Cristiano do BBB4 não havia se assumido ainda na época), Alemão era o “macho alfa” que jogava luz na masculinidade tóxica competitiva do outro grupo. Dourado foi o primeiro que teve uma vitória por ter se sentido “incompreendido” e que já representava o que o público em geral sentia ao se ver confrontado por tantos personagens não-comuns em suas rotinas (basicamente Dicésar Dimmy e Serginho Orgastic).

Passados 8 anos da vitória do Dourado, a gente vê, talvez pela primeira vez, um grupo tão diverso. São 5 negros ao invés dos tradicionais 2 e todos os representantes de minorias sociais (chamados de Baile da Gaiola - apelido maravilhoso) têm, quase sempre, um discurso extremamente eloquente e claro, ao contrário do grupo “Villa Mix” que replica as mesmas falas aprendidas e que ainda não foram filtradas na vida real.
O problema é a dinâmica. Ninguém mais se expõe ou treta. Tá todo mundo afim de conviver junto, ainda que a formação de dois grupos por afinidade seja inevitável. E aí o que faz a direção? Isca o Tiago Leifert para que ele diga o que imagina-se que o Boninho diria só que com uma pilha bem desmedida, interferindo no jogo de uma forma que, não fosse a passividade e a falta de comprometimento dos participantes com a estratégia, poderia guiar resultados.

Sobre RuPaul’s Drag Race: no ar há 12 anos, o programa evoluiu demais inclusive na qualidade do que se apresenta. O mundo Drag evoluiu muito desde que o programa está no ar. E é aí que está o pulo do gato: a cultura Drag é formada por uma série de elementos (o filme “Paris is Burning” e o seriado “Pose” retratam a maioria deles). E um dos principais elementos é a capacidade de “gongar” umas às outras com uma rapidez que dá às drags uma linda ferina (chamado de “reading” e, quando tem uma conotação agressiva, “shade”). A origem disso é a sobrevivência como um gueto numa sociedade preconceituosa onde se precisa criar casca para continuar. Essa casca invariavelmente vira uma ferramenta de leveza através do humor e de proteção, como numa família onde só quem faz parte pode falar mal um do outro. É sabido que quando uma pessoa se apropria de um xingamento contra ela e transforma aquilo numa bandeira ou em parte da sua personalidade, os algozes vão ter que procurar outra forma de detonar o colega.

Mas, assim como no BBB, muitas drags que competem nas últimas edições eram crianças ou ainda não dominavam a arte Drag quando programa começou. E muitas não eram nem nascidas quando a cultura dos “bailes” e do “shade” existia. Muitas delas já nasceram em lares onde a dificuldade de aceitação da família em relação à sua sexualidade e profissão já era bem menor ou quase inexistente. Muitas delas viraram adolescentes numa sociedade muito mais tolerante. E aí a “maldade” no tratamento que uma dá a outra nos bastidores deixou de ser aceita tanto dentro do programa quanto pra quem assiste. Ginger Minj perdeu a temporada 9 pra Violet Chatki, entre outras coisas, porque a sua cultura de “rainha de concursos” não a deixava valorizar o frescor de uma Drag nova que rompia com o que ela conhecia e que, além de tudo, achava nociva a cultura do shade dentro de um grupo ainda muitas vezes excluído socialmente.

A grande questão é o destino de programas como esses, suas capacidades de evoluir com a sociedade e se reinventarem. Mas isso só é possível olhando pra dentro. Na Reunion da temporada 10, The Vixen foi extremamente questionada a respeito do seu comportamento agressivo. Ela foi defendida por quem entende de onde ela veio (Asia O’Hara) e compreendida porém criticada por quem também entende (RuPaul herself). Claro que, por ser um show de talentos, o conteúdo é o que faz o programa continuar sendo relevante - alinhado à forma até que rápida que se adequa às discussões que ele mesmo cria, principalmente no que diz respeito à representatividade dentro da comunidade Drag, sua intersecção com a comunidade trans, as discussões de gênero e as desconstruções sociais.
Exatamente o que falta ao BBB: entender que, apesar das construções sociais, as pessoas estão mudando e, mais do que isso, as suas formas de se expressar e se relacionar estão mudando. Num momento em que o chorume nas redes sociais escorre litros e o ódio gratuito está cada vez mais explícito, observar essa forma de convivência entre pessoas num confinamento pode trazer mais beleza do que “chatice” a um reality show. A não ser que assuma-se que o propósito dele é simplesmente ser um circo dos horrores no mundo cão. Aí melhor cancelar mesmo.

PS1: RuPaul anunciou que a próxima temporada é a última. Entendo.
PS2: Rodrigo eliminado é inconcebível. E a prova de que a gente ainda tem muito o que evoluir enquanto sociedade.
PS3: Tiago Leifert não entendeu nada. Que pena.

PS4: Gabriela campeã!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MasterChefBR: #sortenasorte


Beleza, faz 1 mês que começou o MasterChef e agora eu já saquei quem é quem, já formei opinião sobre tudo mundo e já posso comentar (com BBB é mais fácil, uma vez que ninguém é talentoso mesmo hahahahaha).

Eu só sei cozinhar macarrão (mas não manjo nada de ponto ‘al dente’), miojo (variação de macarrão de universitário, mas coloco o pozinho depois de secar tudo e fica praticamente uma maçaroca de glutamato monossódico) e umas combinações sobremesísticas que todo bom gordo inventa em madrugadas lariquentas (tipo creme de leite com Nescau). Mas sou viciado em reality show. Levando isso em conta, não sei por que demorei tanto pra me viciar em reality shows de comida!

Mas antes tarde do que nunca. E tudo isso graças ao Raul, meu amigo, que resolveu participar (melhor já nepotizar de cara porque eu sou tendencioso mesmo e foda-se). Mas como esse é um blog de TV (COF!) sério, vamos à análise:

Pra começar, todo mundo deve ter falado sobre isso na temporada passada, mas eu não assisti, então pra mim é novidade: acho divertido ver a Ana Paula Padrão numa postura tão despojada e às vezes sorrindo quase tanto quanto à Sandra Annenberg. Só precisa dar uma segurada na emoção na vestimenta, tipo naquele vestido de Romero Britto do episódio de estréia.

Em relação aos jurados:
a) o Jacquin (que não gosta que o chamem de... vejamos... “ Jacquin “ – WHO ARE YOU!?) usa o fato de ser bem bom no que faz pra humilhar coleguinha. Escroto.
b) Namore alguém que te olhe como a Paola te olha. Em qualquer circunstância.
c) Olaaaaaar, Fogaça! (insira sua piada com mandioca aqui)

Sobre os participantes, eu demorei pra formar opinião porque nem todo mundo ali era memorável pra mim (tipo a Minnie Ranheta que saiu na primeira eliminação depois de formados os 18) até a última prova da FAB. Apesar das saudades eternas que vou sentir da Cássia, já garrei amor eterno na Izabel (quero assistir comédia romântica junto), no Gustavinho (quero casar), na Aritana (sim, na Aritana, uai! Cara de parceira de buteco das boas!) e no Cristiano (que me faz ter vontade de chorar toda vez que enche o olho de lágrima). A Jiang dá vontade de levar pra casa, mas tô achando que ela precisa dar umas berradas. O Marcos tá pagando de galã, diferente da Sabrina que é esforçada, apesar de gata. Com o comandante Hamilton eu não consegui ter nenhuma relação a não ser fazer piada óbvia gritando “IBAGENS”, que ninguém agüentava mais (tanto que saiu ontem), e a Iranete tá sofrendo ali por falta de referência. Mas MasterChef, assim como nenhum reality show, é Porta da Esperança e ela já deu uma reagrupada e arrasou na prova de ontem. Força, Iranete!

Carla é dona de casa, mas sem o carisma da Iranete. Lucas é estranho. O Murilo é superestimado. O Fernando é bom pra porra e se deixar manda em todo mundo. Mas, meu preferido é obviamente o Raul. No começo todo mundo falou tanto que ele era o Mohamad dessa edição e eu fui até buscar os vídeos desse cara pra ter comparação. Além de não ser gato igual (desculpa, Raul, mas o ensaio dele pra TPM tá ó!), o Mahamad era moleque indisciplinado e respondão enquanto o Raul é mais adulto (não muito hehehe) e não respondão. Tá levando a sério a bagaça, ta distribuindo bordão nos bastidores e tá lá, todo estabanado, mostrando que paixão move a gente. E sem perder a melhor qualidade dele pra mim, que sou gordo: cozinhar pra quem gosta de comer rezando. Enfim, era impossível não ser um post tendencioso.

E ainda tem quem assista ao programa da Bela Gil... Nada contra, só que (COF!²)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

#Babilônia: Que bela ideia essa novela primaveril em pleeeeeno outono!


Hoje eu resolvi que não perco mais um capítulo dessa novela. Pode ser que isso seja só empolgação de momento, mas só agora eu entendi qual é a dessa Babilônia. É uma zona de novela que só com esse nome mesmo.

Começa assim: Carminha e Maria de Fátima, por um acaso cósmico incrível, eram amigas na adolescência. Amigas amiiiiigas não eram porque a gente sabe que Carminha ainda possuía sentimentos enquanto Fafinha era desprovida. Anos depois, quando se encontraram, Fafá ainda linda e glamurosa enquanto Carms carregava o estigma do lixão, a bela lançou um “NÃO ESTOU DISPOSTA” na cara de nossa coitadeza, sem se ligar que lidava com uma psicopata obcecada.

Carms não só ficou arrasada como estava de prontidão com uma Tek Pix pra filmar a herdeira dos Acioly dando uns pegas no pai de Bebel, seu motorista, que mostrou muito bem de quem sua filha herdou o fogo dos tempos de “Paraíso Tropical”. Como Fátima já tinha reaplicado um golpe no desmemoriado do Afonso pra se casar de novo com ele se fazendo de amiga da falecida Solange Duprat (sério, não mexeram nem no enredo), ela teve que arrumar um emprego pro pé-rapado do marido de Carmem Lúcia em Dubai, onde sua janela não vislumbrasse mais o Divino.

Anos se passaram, Carminha matou o marido no grito e o não-nascido neto no tapa só porque sua filha, a cantora do “Rebu”, era apegada num proletariado (fetiche, gente, quem nunca), e teve que voltar pro Brasil. Bateu na porta da “amiga” e conseguiu um emprego no escritório de advocacia de Bia Falcão, que a essa altura já tinha virado boa pessoa e ainda arrebatou o coração de tia Cellina, que nunca mais teve que se preocupar em trocar estofados.

Só que Maria Beatriz de Fátima, uma insaciável que tenta pedir música no Fantástico toda semana de tanto homem diferente que pega, resolveu ainda dar uma zuada extra na Carms, que andava mais seca do que quando era a Nazaré da primeira fase de “Senhora do Destino”. Fez o psicopata do Tarso Cadore seduzir a fofa e armou um flagra (outra vez) aomilhante.
(Importante pra ligação na trama: Tarso é irmão do Carneirinho que pega a Bebel, que por sua vez teve uma filha com o Laerte, que matou Maria de Fátima quando ela era Norma na outra novela e que, como se não bastasse ser tão insuportável, casou com a “Vem cá, te conheço?”, que é filha da Mamuska, que está há 3 novelas sem função definida.)

Ela só não contava que, depois de ter sofrido na mão de Nina, a sem pen-drive, Carmem Lúcia Inês faria um curso rápido de computação na DataByte e aprenderia a navegar na internet, descobrindo o famoso canal de vídeos XVideos You Tube e metendo lá o vídeo da mãe da Cléo dando uns catos no motorista! E, em menos de 15 minutos, Afonso já quebrou um iPad, a mãe da Bebel já desmaiou (de novo, é só o que ela faz) e o irmão de Bebel, que também pega a véia (porque todo mundo pega, é tipo o Zé Mayer), tá tendo chilique em público!

Ah, ainda tem o drama de Bia Falcão e tia Cellina que têm um filho que namora uma mina chatalhaça, filha de um deputado evangélico corrupto e que é amigo de um instrutor de slackline que pega todos os boys de Ipanema mas sofre bullying do filho do corno do Afonso, mas esse povo é muito pudico perto do fuá representado pela tradicional família brasileira.

Ou seja, nunca mais perco um capítulo!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

BBB15: Estamos de olho!



Primeira semana de BBB, primeiro paredão já me fazendo querer morrer de ódio da população que julga quem joga (4 Casas dos Artistas, 7 Fazendas, 1 Busão do Brasil – 1 minuto de silêncio -  e QUINZE Big Brothers depois e é a mesma lenga-lenga), mas como eu já tô atrasadalhaço com esse post, queria só comentar em uma palavra a abertura de “Senhora do Destino” onde quem tem profissão é retratado por ela e quem não tem parece participante do High School Musical: TENEBROSA. #SDDSHansDonner.

Agora aos participantes:
Tanta coisa levou a esse paredão, mas prefiro só julgar um por um agora, porque depois eu pego amor/ódio e fica mais difícil.

Os cabeças da bagaça:
Francieli: já amo. Das melhores jogadoras da história! Se sobreviver é capaz de sair de vítima ainda desse paredão. Eu quero que fique até o final e desestabilize psicologicamente a casa inteira. Uma coisa meio Tina, só que com o discurso de “te entendo, gata”. No mais, precisa ensinar a Amanda a dar uma controlada naquela olheira de saco de cachorro que tá foda.

Fernando: já amo. Por outras razões (graaaandes razões), mas amo. Pode se foder grandão nessa articulação anti-Fran ou pode transformar isso numa disputa Jean Massumi X Dhomini, só que sem Dhomini (e com metade da capacidade intelectual do Jean). Mas já formou casal, é carismático e devia ter tomado banho pelado no lugar do Douglas.

Os insuportáveis:
Douglas: fala o tempo todo com o olho esbugalhado (certeza que é filho daquele maluco que fuma charuto no Zorra Total), mas tem cara de que espana se for posto contra a parede.

Luan: é o PA do Douglas (PA melhor amigo do Dr. Gê do BBB 5, não a sigla que vocês estão acostumados). A julgar pela escolha, PARTICIPANTÃO!

Marco: filho do Inri Cristo com o vocalista da Tribo de Jah. Tirem suas próprias conclusões.

Amanda: como pode alguém me gerar tanto amor com um simples “CALABOCAAAAA” no primeiro dia e já me matar de preguiça por tanto recalque e de tanta aflição por carregar o gene do William Waack na olheira?

Adrilles: é coerente, mas quer usar linguagem rebuscada O TEMPO TODO, tem voz de Zacarias e já passou da hora de se assumir.

Cézar: subproduto de O Bem Amado (sério, ele comprou o box de DVD e decorou as expressões do Odorico Paraguassu). E como diz meu amigo Fil, tem grande potencial pra virar drag queen. Só não virou porque nunca ouviu falar disso na roça.

Julia: já saiu, mas só pus aqui pra comentar que ela me lembra muito aquela Ronaldinha que, depois que fez pornô, engordou 120kg e virou pastora.

Os figurantes:
Rafael: pegou a Talita e só.

Talita: pegou o Rafael e só.

Mariza: povo leva pra onde quer.

As promessas:
Tamires: não fez nada mas o potencial de louca surto tá ali!

Angélica: justiceira. Gosto.

Aline: alpinista de reality show. Não tem categoria, mas vai que...


Sobre o paredão de hoje, só tenho uma coisa a dizer pra quem votar pra Francieli sair e acabar com metade da graça do meu programa e vou fazer citando a própria: te desejo tudo o que tu me deseja.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

#BeijaFélixENiko




Pausa no BBB (mané pausa, nem escrevi ainda sobre!) pra falar sobre Amor À Vida. Eu abandonei de um tanto esse blog que não cheguei a escrever nada sobre essa novela! E olha que opinião foi o que não faltou. Depois da avalanche que foi Avenida Brasil, começando com Genésio morrendo e Rita sendo jogada por Carminha e Max no lixão, seguindo pro desastre que foi Salve Jorge, começando com Morena desacatando uma autoridade orgulhosinha da Estrela, começar uma novela do Walcyr às 21h (a primeira dele) com um conflito cruzado entre pai e filho e mãe e filha, o filho gay enrustido malvado até o último fio de cabelo, capaz de jogar a própria sobrinha numa caçamba (palavra recorde de menções nas redes sociais em 2013) e ainda assim cair nas graças do público por ser tão somente uma bicha engraçada (mas a da vida real, que todo mundo conhece, não a do Zorra Total) foi um alívio enorme!

O que se seguiu foi uma série de reviravoltas que renderam comentários desde “impressionante como o Walcyr entendeu o ritmo de novela das 9” até “que porra de diálogo é esse que só se fala em bigodinho há 2 semanas”. E no meio disso tudo, duas revelações incríveis: 1) Tatá Werneck, não-unânime, uma estrela! Núcleo cômico foda, Elizabeth Savalla maravilhosa e Tatá que nasceu pra isso. Não dá pra imaginar ninguém num cross-content com um programa como o BBB segurando 18h de imersão no personagem, improvisação e fazendo um conteúdo inacreditavelmente bom e hilário sem parar. 2) Félix. Sempre ele. Só ele. Mentira. Agora na reta final, ele e o Carneirinho. Quem diria que a gente já veria antes de envelhecer um casal gay como o protagonista de uma novela das 9 da Globo. O Walcyr pode ter errado a mão em várias coisas nessa novela (Malvino canastríssimo e Paola que, se pegar mais uma mocinha insuportável dessas, já pode pedir música no Fantástico), mas acertou em cheio no caminho da redenção do Félix. Se fazendo valer da licença poética que toda novela precisa ter (que faz até com que o tratamento dado a uma autista seja totalmente questionável) e usando o humor como forma de ganhar o telespectador, ele deu ao personagem o que lhe faltava para que ele recuperasse o senso de humanidade: amor. Em todos os níveis, da babá ao melhor amigo que se apaixona por ele apesar dos defeitos.

Ninguém nunca vai ouvir da minha boca que o tão falado beijo é um detalhe perto do que tem sido mostrado, porque eu volto a repetir que não mostrá-lo é tratar uma relação homossexual de forma diferente de qualquer outro tipo de relação afetiva e sexual que as novelas mostram à exaustão e isso não contribui em nada (pelo contrário) com a função social que a televisão aberta e o conteúdo de entretenimento que ela produz tem SIM com a formação cultural do brasileiro. Mas também é importante pontuar que nunca a intimidade entre duas pessoas do mesmo sexo foi mostrada de forma tão natural (mesmo sem beijo) e tendo como protagonistas dois estereótipos que não têm a menor vergonha de serem quem são. Félix, apesar de enrustido, nunca tentou esconder seus trejeitos (até porque era impossível). O Niko do Thiago Fragoso começou meio duvidoso, mas o ator entendeu que não precisava cair na caricatura pra mostrar delicadeza (tô doido pra fazer piada de bateção de bunda mas acho que não cabe nesse post que é sério hahahahahaha).

Esse post no blog do Luciano resume isso tudo ressaltando tanto a beleza de uma cena quanto o talento dos atores e ainda é entitulado pelo refrão da música da Heather Small, “Proud”, que foi uma escolha impressionante da Globo pra tratar da história dos dois, tanto pela letra, que fala de orgulho, libertação e coragem, quanto pela memória afetiva de quem foi espectador de Queer As Folk, o seriado mais escancarado sobre o universo gay que já existiu. Em tempos de Kaiques e discussões sobre leis que punam crimes de ódio devidamente (independente do resultado dessa investigação específica), há de se aplaudir o Walcyr e a direção de Amor à Vida por esse feito.

PS: reza a lenda que foram gravadas 3 versões de cena hoje entre Félix e Niko: uma com beijo, uma com selinho e outra sem beijo. Vamos acompanhar! 

Update: rolou o beijo! Numa cena linda, cheia de amor. Momento histórico! :)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Vida tem trilha sonora


Vida deveria ter trilha sonora. Tinha até uma comunidade bem famosa no finado Orkut com esse título. A bem da verdade é que vida tem trilha sonora sim! Por isso que o “Na Trilha Da Canção", novo programa da Sarah Oliveira, que estreia no GNT dia 4 de setembro às 23h30, faz tanto sentido. Ali ela não só mostra que essa frase é real como destrincha essa tal de trilha.

Eu detesto ser clichê quando falo de TV (apesar de ser meio impossível às vezes) e exatamente por isso não vou dizer que a câmera ama a Sarah. Na verdade a câmera ama o que a Sarah faz com a TV. Ela é tipo a sua amiga da rua, a sua bróder da oitava série (saudade, Michelle!) ou aquela veterana gente boa que te leva pra tomar uma cerveja com os caras da sala dela ao invés de te dar trote só porque você é bicho. Do tipo que senta numa buena com o pé na cadeira e faz questão do copinho americano e te olha interessada enquanto você fala da vida, a Sarah é tipo uma catalisadora de momentos bacanas. Ela conduz a história mas faz zero questão de ser protagonista dela porque quer mais é que seus convidados brilhem.

Menina de tudo, intimamente encantada por aquela gente com quem troca idéia, ela só amplia a sensação que a gente tinha de quando era adolescente e se trancava no quarto ouvindo música.

O “Na Trilha Da Canção”, além de te pôr em contato com ídolos e compositores de músicas que fazem parte da sua memória afetiva (pra mim, por exemplo, ouvir MPB me remete, ao mesmo tempo, ao cheiro da sala da minha avó e ao abraço de uma turma de 30 negos que se conheceram num bar apertado na Vila Madalena há quase 10 anos), te dá sensação de intimidade com essas pessoas, além de te fazer pensar nos vínculos que todos nós criamos entre as canções que compõem a nossa história. E te dá uma outra visão das letras, dos fatos,
te faz rir, te emociona, te faz sentir mais parte.

Quando a MTV fez 20 anos eu terminei meu post de aniverário dizendo que eu queria muito que os ex-VJs pudessem continuar inovadores onde quer que fossem seguir carreira, mas agora falando pros que viraram adultos mesmo sem querer. Virar adulto sem querer, pra mim, é continuar trilhando a vida com música tema pra cada momento. E continuar se emocionando, se apaixonando... O "Na Trilha Da Canção" faz tudo isso pela gente inovando na coisa mais legal que um comunicador de TV pode fazer: contar histórias.


Repetindo: 4 de setembro, às 23h30, no GNT.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Salve Jorge: a novela que poderia ter sido

Estava eu, numa quarta-feira qualquer, atormentado pelo futebol semanal que acaba com a vida de quem só tem uma TV aberta pra chamar de sua e uma falta de afinidade com o esporte bretão, quando resolvo assistir pela 109ª vez a Kill Bill, Vol. 1, clássico de Quentin Tarantino. E qual não é a minha surpresa ao perceber que, com exceção da falta completa de vontade da Glória Perez de enredar uma trama como se deve, Salve Jorge poderia ser uma novela de sucesso.

Vamos aos fatos:

A trama:
Vingança porque acabaram com a minha vida.

O motivo da vingança:
Além de acabarem com a minha vida, levaram minha filha.

A mocinha:
Kill Bill: Beatrix era uma loira linda, treinada pelas artes marciais e que foi emboscada enquanto noiva.
Salve Jorge: Morena era uma morena linda, treinada por um traficante de drogas e que foi emboscada enquanto dançarina de funk.

Os mestres:
Kill Bill: Pai Mei
Salve Jorge: Delegada Helô
Ponto em comum: estão sempre na estica e aplicam uns golpes que você não consegue nem acompanhar de onde saíram. E ainda no final ajeitam o cabelo/barba como se nada tivesse acontecido.

Os vilões (por ordem de vingança no Kill Bill):
Kill Bill: Vernita Green
Salve Jorge: Rosângela
Ponto em comum: se iludiram que poderiam ser iguais aos demais vilões, se enfiaram até as tampas no crime mas tentaram se redimir quando encontraram um trouxa que as sustentassem. Se foderam no final.

Kill Bill: O-Ren Ishii
Salve Jorge: Wanda
Ponto em comum: achavam que dominavam a porra toda, angariavam cúmplices por todos os lados, mas morreram pela peruca.

Kill Bill: Budd
Salve Jorge: Russo
Ponto em comum: só têm a cara de mau e até fizeram a mocinha sofrer no decorrer do processo, mas se foderam porque acreditaram em mulheres que não queriam nada com eles.

Kill Bill: Elle Driver
Salve Jorge: Irina
Ponto em comum: as louras más que juram que são alguém na noite mas não têm mais juventude pra agüentar o tranco.

Kill Bill: Bill
Salve Jorge: Lívia Marini
Ponto em comum: se achavam os reis da cocada preta, só foram meter a mão na massa no final mas acabaram morrendo pelo coração (bonito isso).

Personagens secundários:
Categoria nepotismo: o braço direito da vilã secundária:
Kill Bill: o irmão da Lucy Liu
Salve Jorge: Junno, o namorado da Xuxa

Categoria tentativa de humor: a hostess do bar:
Kill Bill: Charlie Brown
Salve Jorge: Dona Diva

Categoria ainda tem que comer muito feijão com arroz: o projeto de vilã:
Kill Bill: Gogo
Salve Jorge: Maria Vanúbia

Cenários da batalha:
Onde tudo acontece:
Kill Bill: EUA (Califórnia) e Japão (Tokio)
Salve Jorge: Brasil (Rio) e Turquia (Istambul)

Paraíso paralelo:
Kill Bill: México
Salve Jorge: Capadócia

Línguas secundárias:
Kill Bill: japonês e mandarim
Salve Jorge: turco safado e português do morro

Armas utilizadas:
Kill Bill: espadas Hattori Hanzo e tapa na cara
Salve Jorge: um revolvinho mequetrefe, uma seringa com Ades de maçã e tapa na cara

Meio de transporte:
Kill Bill: a Pussy Wagon chamativa
Salve Jorge: o jatinho da ponte aérea Brasil-Turquia não cadastrado na ANAC

Erros (porque nem o Tarantino está livre):
Categoria cabelo:
Kill Bill: Beatrix alterna entre cabelo curto repicado e comprido “estou há 4 anos em coma”
Salve Jorge: Morena alterna entre cabelo de propaganda de shampoo e crespo “are you leaving the Supremes?”

Categoria “não tem ninguém vendo?”:
Kill Bill: Beatrix mata Buck no hospital onde estava em coma há 4 anos e o companheiro que foi servir-se dela e fica 13 horas no estacionamento tentando movimentar o dedão do pé.
Salve Jorge: Morena vai pra igreja no meio da madrugada dar uma rezadinha básica, encontra Théo mas não encontra os bandidos que estão por toda a parte, justificando sua reclusão num hotel.

Conclusão:
P: Por que Kill Bill é infinitamente melhor que Salve Jorge?
R: Por que em Kill Bill não tinha o Théo.



PS: algum Diretor de Arte amigo podia transformar isso numa tabela comparativa e presentear este que vos fala, né? Só, assim, uma sugestão. Grato.