quarta-feira, 21 de março de 2012

A vida é mais divertida quando a alma é feminina



No atraso que eu tô nesse blog (os textos que eu ainda tô devendo vêm, ainda que fora de hora, mais pra treino do que pra cumprir timing), só porque eu fiquei preso no escritório consegui ver “Louco Por Elas”, da nova leva de séries da Globo. E essa é deliciosa!

Eu sou fã do João Falcão desde sempre, na verdade. De “O Auto da Compadecida” (inquestionável) a “Clandestinos” (linguagem nova incrível em produção de TV que eu não sei por que não continuou), passando por “Fica Comigo Esta Noite” (que só eu vi), eu adoro tudo o que ele faz. “A Máquina” (também dele) está no meu Top 10 de filmes e tem uma das melhores frases de amor ever: “Você quer o mundo? Eu busco o mundo pra você” – dita num tom de ameaça passional numa história cheia de referências e num cenário bem regional. Por isso é bacana ver esse mesmo cara construindo uma comédia urbana despretensiosa e leve com só esse item em comum: a alma feminina.

Léo (Du Moscovis) é o típico macho desmistificado que já entendeu que não é provedor de nada sozinho e que, sem mulheres pra colocá-lo no prumo, ele é um bosta. Encantador, sim. Mas um bosta. E os defeitos que essa mudança no padrão das relações causa estão todos ali, numa facilidade de identificação que só faz quem está assistindo rir de canto de boca. O mesmo acontece com a personagem da Déborah Secco, que se coloca na posição “masculina” do (ex)casal, mas é frágil, dependente e quase histérica. E ainda tem a filha adolescente pra botar mais pilha naqueles que se vêm, pela primeira vez na vida, como espelhos tortos de alguém que tá buscando identidade.

Pra aliviar o que já seria uma comédia ótima, a melhor parte da série: o contraponto entre a velha hippie sequelada (a absurdamente incrível Glória Menezes) e a menina nerd, ultra-inteligente e sagaz que faz o papel da razão nessa casa que só não lembra mais a nossa porque a nossa Parati não é mais verde-limão. Eu ia chamar isso de inversão de papéis mas nem posso porque, particularmente, acho uma das maiores graças da minha família ter uma avó sarrista, de cabelo roxo, que canta sertanejo antigo e dança forró enquanto cozinha aos 90 anos (obviamente não tão caricata quanto essa) pra algumas pessoas que se levam a sério demais. E ser um pouco desconectado do mundo é uma opção de vida das melhores que estão tendo! Ah, destaque pra participação fofa (pra manter o comentário feminino) do Arlindo Lopes, par da Glória no teatro em “Ensina-me a Viver” onde ela fazia uma jovem de 80 e ele, um senhor de 19 - dirigidos pelo mesmo João Falcão.

A crise de idade de todo mundo no episódio de ontem (a inveja dos mais jovens e a constatação da própria idade dos mais velhos, com o personagem do Du racionalizando que precisa começar – COMEÇAR – a assumir os cabelos brancos) só faz de novo o que eu mais gosto na dramaturgia brasileira: fala de cotidiano e faz graça de si mesmo. Afinal de contas, com 10, 15, 40 ou 90, cada um tem que viver a idade que sente. No caso do protagonista, 22. No meu, 17. Mas com permissão pra beber.

Agora licença que eu vou ver o primeiro capítulo porque não tenho TV a cabo, mas já assinei a Globo.com! :)

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