sábado, 21 de agosto de 2010

Se tem bigodes de foca, nariz de tamanduá...



Até essa semana nunca tinha assistido “A Liga”. Andava tomado por minissérie da Globo, Profissão Repórter, Ídolos ou qualquer comédia da MTV. Mas confesso que, se arrependimento matasse, tava fedendo a crisântemos a essa hora. O caso é que nessa última terça-feira eu finalmente consegui ver e a pauta foi um assunto bem caro pra mim: discriminação.


“A Liga” é um programa com um formato bem interessante. Um programa jornalístico com foco em comportamento que conta com 3 apresentadores com perfis distintos: Rafinha Bastos, comediante, CQC, irônico e leve; Débora Villalba, jornalista, centrada e imparcial; e Thaíde que é culto mas é periferia, é profissional mas chora, é compreensivo mas se indigna (no site consta mais uma, mas como nunca vi, não posso opinar).


O objetivo do programa era entender como funciona a cabeça de quem discrimina e como vivem os discriminados, já que toda história tem dois lados. Pra começar, montaram um focus group onde os participantes tinham que relacionar 7 pessoas a uma profissão somente com base na aparência. O resultado foi desastroso: o médico negro virou motorista, o artista de circo virou médico por ter “mão branca e com aparência de limpa” e o advogado virou artista de circo por ser anão. Entre comentários como “ele não tem perfil de adEvogado” (sim, com “E” no meio) e “anão tem cara de quem gosta de ficar pulando”, tivemos uma senhora que achou graça numa travesti ser dona de casa e um senhor que disse a clássica frase “todo mundo é preconceituoso”: a forma mais fácil de generalizar um problema social e amenizar os próprios defeitos. Outro caso cotidiano: porta de balada da Vila Olímpia, segurança diz a dois amigos negros que entrada custa R$ 400 mas que somente é permitida com nome na lista (que eles não tem), enquanto diz para dois amigos brancos que a entrada é R$ 200 sem necessidade de nome na tal lista.


Daqui por diante, o foco foi mostrar como a discriminação pode prejudicar seriamente a vida de uma pessoa. Dois homossexuais pertencente às Forças Armadas foram presos quando assumiram sua relação na capa da revista Época, um soropositivo foi demitido sem maiores explicações ao revelar a doença na empresa, e um negro foi baleado e ameaçado de morte quando foi confundido pela polícia com um bandido (alegaram confundir seu guarda-chuva com um fuzil, e 4 dos 5 policiais envolvidos continuam soltos e trabalhando). Em todos os casos, pessoas eram entrevistadas na rua sobre o seu comportamento diante de pessoas nessas condições. Palavras como feio, palhaçada e sem-vergonha foram usadas pra tachar os gays (pra pegar leve) e aperto de mão, beijo na boca e até estar no mesmo ambiente foram citadas como formas de se contrair o HIV. Ah, Deus também foi bastante citado.


E quando a gente pensa na única coisa que pode mudar isso, a educação, eles nos apresentam Lívia, uma menina portadora de síndrome de Down que foi recusada em colégios que “não estavam preparados” para lidar com isso. Depois de ouvir do diretor de uma escola particular que ele não era obrigado a prestar um serviço que era de responsabilidade no governo e ter, impressionantemente, perdido, em primeira instância, o processo que moveu contra a instituição, a mãe de Lívia conseguiu que ela fosse aceita num colégio onde seu boletim é forrado de notas altas e onde é tratada pelos colegas como uma menina que aprende mais devagar sim, mas que é uma colega de classe normal. A mãe de uma amiga de Lívia me emocionou quando disse que considera de extrema importância ver sua filha convivendo com a diferença desde pequena para que se torne um adulto mais tolerante.


Preconceito é fruto de ignorância. Ignorância presente tanto na falta de informação quanto na falta de vontade de querer entender/conviver/respeitar (reparem que eu não coloquei o verbo aceitar aqui). O motivo pelos quais os “diferentes” incomodam os “comuns”, eu juro que não sou capaz de aceitar, até porque, na prática, ninguém tem nada com a vida de ninguém. Mas até entendo, já que, da minha parte, também não sou livre de preconceitos... Acho o fim da picada bota pata-de-bode e mãe periguete no Orkut. Mas, diferente da maioria, trato de igual pra igual!

Um comentário:

Unknown disse...

Amei este post !!!! Assisto a Liga desde que começo e pra mim um programa que faltava ...